terça-feira, 5 de maio de 2009

Trem do Pantanal: Quando o Trem passar...

A velha estação abandonada, no centro de Aquidauana, é página virada. A crítica do mestre Frazão no enredo carvalesco “Maria Louca”, revelando o precário estado da ferrovia, entra para o acervo da história, como referência de um período de 14 anos, quando apenas o transporte de carga foi mantido.

O novo Trem do Pantanal, numa versão que pouco lembra as primeiras locomotivas que apareceram no Brasil, no século XIX, deixa de ser uma mera especulação.

O governador André Puccinelli, que apostou no projeto e garantiu que “se Deus quisesse” o trem voltaria, viabiliza, um sonho acalentado por todos os sul-mato-grossenses. “Deus quis”, lembra um estudioso do assunto, porque André buscou parcerias significativas: o Governo Municipal de Aquidauana, a América Latina Logística (ALL) e a Serra Verde, empresa gestora do empreendimento.

Quando entrar no Trem, nesta sexta feira, depois de descerrar a fita que inaugura oficialmente o mais novo equipamento ferroviário e turístico do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - convidado ilustre da festa que será um “revival” de uma cena histórica de 1912, quando a primeira locomotiva apontou nos trilhos da NOB, sendo aclamada de forma emocionante - pode estar confirmando o início de um novo tempo para a Princesa do Sul, cidade que é a porta de entrada para o celebrado santuário do Pantanal. O primeiro trem, conforme registram os anais, “impulsionou o município”. Este, pode contribuir para uma nova etapa de desenvolvimento.

É verdade que a versão Express pouco lembra a velha Maria Fumaça, nome dado em função do vapor e fuligem que a locomotiva pioneira expelia pela chaminé. Os vagões são vistosos, com uma decoração que chama a atenção de qualquer um. Tem um Bar “Chic” – como definiu um curioso - , vagão executivo e camarote. Talvez o apito lembre, vagamente, o som estridente que conferiu àquele veículo ferroviário de tempos idos outro apelido: “Maria Louca”. Mesmo assim, será difícil para os antigos moradores da cidade, não voltar no tempo. Aliás, a Serra Verde Express incorpora essa possibilidade como uma de suas premissas comerciais. O Site da empresa observa que seus projetos visam fazer com que os clientes tenham contato com a natureza, se divirtam e tenham despertado o saudosismo, em passeios inesquecíveis.

Em síntese, o ontem e o hoje se unem num momento histórico para Mato Grosso do Sul. Além desta “imersão saudosista” a volta do Trem, como alguns gostam de dizer ou simplesmente o início de Operação do Trem do Pantanal, como observam outros, tem desencadeado um novo ritmo na cidade de Aquidauana. Se a Festa da Farinha, do lado de lá, contagiou o lado de cá, certamente a emoção ganhará sentido oposto, na próxima sexta-feira.

Será difícil conter a emoção, que já foi desencadeada no coração de escritores, poetas e cantores, de tempos para cá.

Um deles, o prefeito da cidade irmã, Cláudio Valério:

“Sobre os gastos trilhos
Firmados no chão batido
Lá vem ele a deslizar.
Seu ritmo binário
Anima um cenário
De belezas sem par.
Diversidade de cores,
De tuiuiús e beija-flores,
Colore-se o ar.
Na terra, os bichos!
Do capão ao corixo,
Vê-se a vida a brotar.
Desejo de união...
Ocidente-Japão.
É preciso sonhar!
Água e céu!
O pantanal do mundéu!
Corumbá-Montevidéu,
Buenos Aires-Assunçao..
Fim de estação!
É preciso parar.
Ipês multicores,
Falcões, desamores...
Lembranças recônditas,
Daquela criança,
Que não quer acordar.
Locomotiva fumando,
Apitos alertando,
Que o trem vai passar!
E entre espanto e saudade,
Vai transportando uma idade,
Que sempre insiste em ficar.”

O espanto e a saudade, certamente estarão entre as emoções desta sexta-feira. O espanto talvez dos que não acreditaram que o Trem do Pantanal seria uma realidade. A saudade daqueles que viveram, por muitos anos, a emoção de viajar de trem ou de simplesmente ver a locomotiva passar, com os apitos alertando, que o trem iria passar.

Agência de Comunicação Social

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Quem sou eu

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Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF) - Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia. Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.